O texto de Morente, intitulado de “O conjunto da Filosofia” procura, de maneira clara, definir a filosofia e seu objeto de estudo. Para isso, usa uma forma de desconstrução do saber existente a respeito da filosofia para, a partir desse mecanismo, realizar uma nova construção, mais sólida, contextualizada a respeito do “que é filosofia?”, fugindo das definições objetivas e, conforme a própria autora, não vivenciada, que poderiam não expressar, adequadamente, o seu significado.
Filosofia é uma palavra formada por dois radicais gregos, phylos (amigo) e Sophia (sabedoria). Deste modo, ao pé da letra, a filosofia significa apenas “amor à sabedoria”.
No entanto, durante a antiguidade, clássica ou não, e que se perpetuou ao longo do tempo, a filosofia passa a ser sinônimo da própria sabedoria.
Dentro dessa visão, Platão, filósofo grego, discípulo de Sócrates e fundador da Academia, faz uma distinção entre a opinião e o conhecimento fundamentado. Para ele, a opinião era a “doxa” e, contrapondo-se a ela, existia a “episteme”, que significa o conhecimento fundamentado, a ciência.
Para construir o conhecimento fundamentado, Platão se utiliza do método da Dialética, que consiste em, inicialmente, descontruir uma idéia, por meio da sua negação, para depois reconstrui-la, gerando uma nova tese. Assim, o conhecimento fundamentado era construindo por meio da dialética como resultado de um saber reflexivo, racional. Ou seja, com Platão, a filosofia adquire um sentido de saber racional, reflexivo, adquirido mediante o método dialético.
Aristóteles, discípulo de Platão, também considera que todo o conhecimento humano é filosofia. Porém o divide em 4 disciplinas ou partes: lógica, a física, a metafísica e a ética.
Durante a Idade Média, houve a “revelação” do conhecimento cristão. Pode-se dizer, assim, que houve a primeira cisão do conhecimento humano: teologia, que englobaria todo o conhecimento a respeito de Deus; e a filosofia, que abarcava todo o conhecimento a respeito da natureza ou sobre Deus, porém de forma racional.
A partir da Idade Moderna, a filosofia começa a se fragmentar. Mas se fragmenta porque passa a ocorrer uma especialização do conhecimento humano, que acaba por definir diversos objetos de estudos, que culminam em diversas ciências. Porém, essas ciências deixaram de ser filosofia porque passaram a ver seu objeto como algo fragmentado, parcial à realidade existente. Logo, a filosofia, neste ponto, continua tendo a mesma idéia proposta por Platão: ciência que estuda o objeto de forma universal e totalitária. Quando perde essa capacidade, para a ser uma disciplina. Deste modo, a física, a química, a biologia e outras ciências passam a estudar seu objeto dentro de um aspecto de parcialidade, e assim, deixam de ser filosofia.
Desta forma, é importante salientar que para ser filosofia o objeto de estudo deve ser sempre visto de forma universal e total.
A partir da idade moderna, o que resta é filosofia. São consideradas, então, subáreas de estudo desta ciência a ontologia (incluindo-se a metafísica), a lógica, a gnosiologia, a ética, a estética, a filosofia da religião e duas ciências, que dividem os seus pensadores: a sociologia e a psicologia.
Por fim, a autora ainda cita que, nos dias atuais, a filosofia pode ser dividida em duas grandes áreas afins: a Ontologia e a Gnosiologia, por terem seus objetos de estudo um estado universal e total. Porém, a ética, a estética e a lógica, apesar de não terem um objeto universal de estudo, ainda podem ser enquadradas como tal, por não terem um objeto de estudo bem definido e delineado.